quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Eu conto: "O último dos gordos" - Parte 1 de 5

Era o quinto dia do oitavo mês do trimilésimo cinquentésimo segundo ano. Ou simplesmente 05 de agosto de 3052. Tinha vontade de abrir a janela, passar pela porta, conhecer outras cidades, mas Baco mal conseguia sair de casa, quiçá de Esbeltópolis. A cidade, que antes era conhecida como Santo Agostinho de Carcumel, ganhou esse nome após ter conseguido com que todos (ou praticamente a maioria) de seus cidadões estivessem abaixo ou cumprindo a meta de seu peso ideal. Baco fazia parte da minoria da cidade; na verdade, era o último dos considerados obesos.

Vale a pena saber um pouco do histórico de Baco com a cidade. Há tempos, quase ninguém se importava do homem não atingir seu peso ideal. Na verdade, ele nem seria considerado um obeso se vivesse nos anos 2000 ou antigamente. Estaria somente acima do peso, com alguns quilos a mais. Porém, numa cidade em que todo mundo encontra-se rigorosamente dentro de seu peso ideal ou abaixo (e diga-se de passagem bem abaixo) do mesmo, a barriga a mais de Baco se tornara um barrigão.

Abreu (o primeiro dos três sobrenomes de Baco) tinha amigos que o acompanhavam desde os tempos do colégio. Pedrão, Diegão e Thiagão eram três exemplos de indivíduos que após passarem um pouquinho de seu peso habitual, entraram em uma dieta rigorosa, ao contrário de Baco. Desde então viviam sendo chamados de Pedrinho, Dieguinho e Thiaguinho (ou sem "inhos", por favor). Eram eles quem atualmente traziam comidas e bebidas à Baco, pagavam suas contas, consertavam seus eletrônicos, etc... Tudo devido à nova regra imposta pelo prefeito de Esbeltópolis, o exemplar Sr. Ramiro Penteu. Cabe contá-la daqui a pouco, caro leitor... Antes explicarei o porquê do surgimentos das regras e quando o excesso de peso de Baco torna-se uma obesidade mórbida aos olhos dos outros.

Pois então, Esbeltópolis estava prestes a ganhar o signo máximo de "Cidade Perfeita", inclusive com a possibilidade de ter seu nome modificado para Perfeitópolis. A cidade seria coroada por ter a maior percentagem de habitantes saudáveis por quilômetro quadrado. Eis que surge a cidade vizinha, Pontífica Sumarina, em que todos estavam alcançando o peso ideal. E lá não havia sujeitos como Baco. Eram todos mesmo alcançando seu status de magreza. Os idealizadores do "concurso" resolvem dar um tempo máximo de seis meses para que seja feita averiguada ambas as cidades e seja escolhida a nova Perfeitópolis.

O prefeito Penteu fica furioso ao saber do estado de Baco e, facilmente, consegue apoio de quase toda a população de Esbeltópolis para resolver a situação. É um tal de gente querendo mandar Baco morar em Pontífica Sumarina, outros querendo simplesmente que ele emagreça e outros pensando já em se mudar para a cidade concorrente... Ramiro resolve conversar com o habitante do contra, sem sucesso. Desconfortado, cria a rigorosa "Lei Perfeita".

Tal Lei ordena que:

Art. 1 - Todos os mercados e lanchonetes estão proibidos de vender qualquer tipo de comida calórica para o Sr. Baco Abreu Marcondes Sá.

Art. 2 - Todo o comércio têxtil está proibido de vender qualquer tipo de roupa para o Sr. Baco Abreu Marcondes Sá.

Art. 3 - Todas as bibliotecas estão proibidas de vender livros para o Sr. Baco Abreu Marcondes Sá, com exceção dos que apresentem conteúdo construtivo para a redução de peso do mesmo. Tal medida é adotada para que o homem evite atividades de pouco movimento como a leitura.

Art. 4 - Está proibida qualquer tipo de comunicação sonora ou visual com o Sr. Baco Abreu Marcondes Sá, sendo incluídos hologramas ou ainda a utilização de velhas técnicas como a telefonia, seja ela fixa ou móvel.

Art. 5 - Qualquer cidadão que encontre o Sr. Baco Abreu Marcondes Sá pela cidade deve imediatamente forçá-lo a alguma atividade física, de forma a serem beneficiados aqueles que resultarem em perda de peso do indivíduo.

A partir deste dia, todos (com exceção dos três amigos) viam no emagrecimento de Baco a fórmula da felicidade. Para muitos, o título de Cidade Perfeita era uma oportunidade de crescimento para a cidade, já que haveria mais investimento por parte do governo, mais turistas e consequentemente mais empregos; mais estabelecimentos e consequentemente mais empregos e por aí vai... Para Baco, sua gordura era algo incômodo. Ele queria emagrecer, sim. Todos querem. Mas não conseguia... Tentara várias vezes, mas nunca conseguiu e odiava quando o forçavam a algo.

Diante de tamanha pressão, de ter sua liberdade extraída e sua sobrivivência ameaçada, Baco começou a pensar no que faria.




CONTINUA...

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