segunda-feira, 26 de outubro de 2009

"Meias-Verdades" - Capítulo 10: "Simultaneidade"

Jorge saiu sem rumo do prédio em Copacabana, uma vez que não sabia para onde ir. Ligou para Alberto, incomodado com a demora, pois precisava que o historiador além de lhe fazer o favor, lhe desse o endereço do "Estúdio Paradise".


O aparelho vibrava e girava no chão, as luzes piscando no rosto assustado de Lúcia e na bengala de madeira que era envolvida por suas mãos suadas. A mulher atacara o possível assaltante e agora via na tela do celular que havia cometido um erro. Resolveu que seria melhor atender a ligação enquanto o homem ainda encontrava-se desacordado.

- Alô?
- Alô? Deve ter sido engano, eu queria falar com...
- Não, você ligou para o número certo, Jorge! Aqui é Lúcia, sua vizinha... é que... Ai, nem sei como te falar isso! Bom... Qual o nome do dono do celular mesmo?
- Alberto.
- Então, eu achei que o Alberto estava...bem...estava tentando assaltar sua casa! Afinal, ele estava arrombando sua porta e isso não é comum nem em Ibitiba nem em...
- Ô, Lúcia, eu tenho pressa agora. - falou Jorge, sendo um pouco rude de certa forma com sua vizinha pela primeira vez - Passa pro Beto, por favor?
- Ele está desmaiado, Jorge!
- O quê? Mas o que você fez com ele, meu Deus?
- Eu o ataquei... com a bengala de minha tia. Não chegou a sangrar, mas ele não parece estar nem perto de acordar.

Jorge soltou um palavrão dos grandes. Não confiava em Lúcia como confiava em Alberto, mas questão de confiança agora era piada perto do que poderia acontecer se alguém não fizesse o que precisava ser feito. O fotógrafo respirou fundo.

- Lúcia, você vai ter de fazer um favor para mim.
- Faço o que você quiser.
- Você vai ter que entrar no meu apartamento, ir até o meu cofre e pegar um envelope pardo que já está fechado lá dentro. Depois disso, te digo o resto...
- Mas como vou entrar no seu...
- Não sei, Lúcia! Alberto estava tentando fazer isso pra mim, então como você fez a merda - Jorge não só soou rude, como foi agora - de atacá-lo, dê seu jeito. Me liga assim que estiver com o envelope, tchau.



As pernas de Lúcia tremiam. Ela pulava de uma varanda à outra, no encalço das grades, com um medo enorme de cair. Era sorte sua que as varandas eram coladas e a adrenalina foi curta. Chegou rápido ao cofre de Jorge, já sabia onde era. Ligou para o homem, que lhe disse a senha e deu as instruções do que deveria ser feito em seguida. Para alivio da mulher, uma das chaves estava próximo à porta. Abriu-a e arrastou o corpo do desmaiado Beto para dentro do recinto, colocando a chave ao lado do corpo do homem. Depois de anotar o número de Jorge em seu celular, pegou a chave de seu Fusca e saiu em direção à sua "missão".



A ansiedade do fotógrafo era tanta que ele mesmo entrara em uma lan house e pesquisara sobre o "Estúdio Paradise". Achou o endereço em um site que constava em manutenção já há muitos anos. Aproveitou e pesquisou sobre Heitor Denali e anotou tudo o que poderia lhe ser útil. Seu suor fazia de seu rosto um chafariz ambulante, mas ainda assim um chafariz que jorrava de amor por Alice. Somente por Alice. Pagou o período curto que acessou a internet e entrou em seu carro, dirigindo o mais rápido possível para o "Estúdio Paradise".



A campainha de Jorge tocara. Havia se passado poucos minutos desde o ataque, mas mesmo assim Alberto reagiu e conseguiu se levantar, ainda tonto. Não entendia o motivo de estar ali, mas não procurava a resposta naquele momento. Girou a maçaneta.



Eram 17:08. Sabe aquela estranha sensação de que somente você está fazendo algo, e que não existe a possibilidade de nada mais importante estar acontecendo no mundo? Mas essa tese é egocêntrica, e como o mundo é um fervilhão de acontecimentos, sempre vai estar acontecendo algo com alguém naquele momento. Algo realmente importante. Nenhum deles sabia disso, mas no exato momento, naquelas 17:08, muita coisa acontecia ao mesmo tempo.

Alberto abre a porta e depara-se com Cristina.
Jorge se distrai e seu carro se choca com mais outros dois.
Lúcia caminha até o meio de uma praça e posta-se diante de uma jovem loira.


[CONTINUA...]


Por Pedro Henrique Castro.


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