quarta-feira, 14 de outubro de 2009

"Meias-Verdades" - Capítulo 2: "Na delegacia"

Jorge não podia e nem queria acreditar. Seu sonho, sua mente, seu coração, sua razão de viver estava ali, caída ao chão, olhos semi-cerrados que ele próprio fechara com os dedos. O pranto fez-se manto de Jorge.

Por um momento, pensou em se matar; O mesmo pensamento ocorreu-lhe outras vezes em todos os momentos em que estava ali junto ao corpo de Alice. Os vizinhos, alertados pelo desespero nada silencioso do fotógrafo, foram aparecendo à porta aos poucos. Em instantes, a polícia foi acionada junto à ambulância. Não tardaram muito a chegar, tanto quanto fora a demora para convencer Jorge a separar-se do corpo da mulher. O homem sentia-se como um cordão umbilical de sua amada, e tais policiais fizeram o corte cirúrgico que todo obstreta necessita fazer diante do nascimento de uma criança.

Vazio. Era essa a sensação do infeliz naquele instante. Sempre teve uma ideia de frieza relacionada à policiais. No minuto seguinte, teve a certeza:

- Nome, por favor? - perguntou a policial negra.
- Jorge.
- Completo.
- Jorge Otávio de Almeida Sá.

Não acreditava que estavam lhe fazendo perguntas diante de tal acontecimento. Poderia um ser humano ser insensível a tal ponto?

- Sr. Jorge, queira me acompanhar, por favor, para fora do local do crime. O senhor será escoltado imeadiatamente até a delegacia mais próxima para recolhimento de testemunho e outras informações que puderem servir no prosseguimento da investigação. Após feito o boletim de ocorrência, o senhor estará livre para voltar a seus afazeres.

"Voltar a meus afazeres?", pensou Jorge. Teve vontade de gritar com a policial, dizer que seus afazeres haviam terminado ali, naquela noite. Nesse momento, não pensou mais em suicídio, e sim matar a negra à sua frente, tamanha raiva que estava. Por sorte e pelo pouco de sanidade que lhe restavam, não o fez...

Fora uma longa noite para Jorge. Contara aos policiais todo o seu dia anterior, omitindo apenas o nome de Marina e consequentemente, o porquê de ter se encontrado com Marina. Isso só dizia direito à ele mesmo e à garota. Negara qualquer inimigo que Alice pudesse ter - realmente não recordava de algum possível... -, negara qualquer desavença entre o casal - ambos não brigavam há bastante tempo, e do mesmo jeito Jorge nunca levantara sequer a mão para Alice - , e negara qualquer motivo que pudesse ter levado à tal crime.

No decorrer do depoimento, fora recolhendo informações que chegavam sobre o denominado "Caso Alice": segundo os legistas, a mulher havia sido assassinada por volta de 19 horas, levando em consideração o tempo em que o sangue parara de correr pelas veias sanguíneas e outros fatores médicos... O termo "assassinato" fora de fato usado, pois além de esfaqueada, Alice estava também com sinais de estrangulamento, que fora de fato o real motivo de sua morte. A faca encontrada no chão próximo à cozinha não continha sinais de sangue e fora levada para análise de digitais. Tudo indicava que após ter tirado a vida de Alice com as próprias mãos, cordas, ou qualquer objeto que fosse no pescoço da mulher, o assassino a esfaqueou e fugiu pela porta de entrada ou pela janela. Jorge também ouvira que os vizinhos foram questionados, e nenhum disse ter ouvido sinais de arrombamento de porta, gritos, discussões ou qualquer atitude suspeita.

De acordo com os relatos de Jorge, o delegado concluiu que o álibi do fotógrafo estaria gravado na fita da agência bancária da qual o mesmo afirmara estar na hora do assassinato. O responsável pelo caso, Dr. Pacheco, informou que até que a polícia estivesse em posse da gravação, Jorge estaria livre, porém impedido de sair da cidade. O mesmo concordou, logicamente. Não tinha intenção de sair de seu corpo, quanto mais de sua cidade. Pacheco prometera à Jorge resolver o crime. O que não sabia, é que Jorge nunca acreditara em promessas.

Saiu da delegacia e foi para o hotel mais próximo. Agora já não pensava mais em se matar, ou matar a policial negra. Pensava em vingança, gostava da ideia de saborea-la, desfruta-la em cima do animal que tirara a vida de sua Alice. Pacheco não teria a mesma convicção, não era sua esposa que estava morta, ensanguentada, que não teria um funeral digno por ter tido o corpo totalmente estraçalhado.

Pensou em tudo. Tudo mesmo. Pensou principalmente em nomes, em pessoas. Alice, Marina, Diego, Carlos, Regina, Lúcia, Gregório, a policial negra, Pacheco, Amália, Amaury, Magda, Miguel...

Pnesou em vingança. Pegou o celular e ligou para Alberto.


[CONTINUA...]


Por Pedro Henrique Castro.



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